O Dr. Caio é cirurgião plástico, tem uma grande clínica com recurso próprio de centro cirúrgico, e hoje atende a Sra. Joana, que veio andando alegremente para o consultório do médico junto com sua filha. A Sra. Joana tem 65 anos e teve um acidente vascular encefálico há 10 anos que a deixou com hemiparesia espástica em membro superior esquerdo. Devido ao incômodo imposto pela espasticidade, ela aplica botox periodicamente. Joana é hipertensa, diabética e dislipidêmica. Sua retinopatia tem afetado sua acuidade visual, e a paciente já se encontrou em diversas situações difíceis devido à limitação. Por isso ela prefere andar acompanhada. Faz acompanhamento com oftalmologista, última consulta há 1 ano.

Ela usa metformina 850 mg 3 x/dia, insulina NPH 20 U manhã e 10 U à noite, Insulina rápida 4 unidades no café, almoço e jantar, ramipril 10 mg/dia e atorvastatina 40 mg/dia. Dna. Joana procura o Dr. Caio para mais uma sessão de aplicação. Disse que já trouxe a ampola para o Dr. apenas aplicar. Ex-tabagista há 40 anos, 1 maço por dia, por 10 anos, afirma que não consome álcool e nem faz atividade física. Acompanha regularmente com seu endocrinologista, tendo sido a última consulta há cerca de 2 meses. Afirma que sua pressão arterial, diabetes e perfil lipídico vêm bem controlados. Teve 3 gestações, 2 partos normais e 1 cesariana. Na terceira gestação teve hipertensão arterial, que melhorou durante 10 anos, voltou a ficar hipertensa após. Não vai à ginecologista há 3 anos. A filha que a acompanha, Mônica, afirma que a mãe foge da médica porque detesta fazer mamografia, mas que os últimos exames ginecológicos estavam normais. Mônica afirma, ainda, que Joana foi adotada, então não conhece as doenças dos seus pais. Sobre as filhas de Joana, Mônica afirma que ela (irmã do meio) e a irmã mais velha são hipertensas, enquanto a irmã mais nova, que é toda fitness, não tem patologias. Quanto questionada se sentia mais alguma coisa, D Joana disse que tem um calo no pé esquerdo que não traz incômodo.

O médico examina Dna. Joana e percebe que sua pressão arterial está 130 x 80 mmHg, frequência cardíaca 72 bpm, frequência respiratória de 24 mrprm, temperatura axilar 37,6º C. Ela pesa 80 kg e tem 1,60m. Suas mucosas estão hidratadas e coradas, seu murmúrio vesicular é presente e não há ruídos adventícios, suas bulhas cardíacas são rítmicas e normofonéticas e não há sopros. A paciente é obesa, de maneira que o exame abdominal é mais difícil, porém não há evidência de visceromegalias ou de massas palpáveis e os ruídos hidroaéreos são normais. O exame dos membros não revela edema, os pulsos periféricos são simétricos e a mobilização dos membros e juntas é normal. O médico aspira o conteúdo da ampola e aplica em vários pontos do membro superior esquerdo da paciente. Os músculos relaxaram, mas a paciente estranha: “Dr., meu braço está formigando/não estou sentindo a pele dele direito... As outras vezes em que apliquei botox não foi assim... É normal?” O médico fica pensativo, pois sabe que o botox atua sobre a liberação de acetilcolina. Ele olha para a mesa e percebe que o frasco do botox estava logo ao lado de um frasco de um medicamento, que atua sobre a condução nervosa, e que foi o que ele aspirou e aplicou na paciente!”. O médico pensa consigo: “Meu Deus! Cometi um erro médico!”.

Anamnese

ID: Joana, feminino, 65 anos

QP: aplicação de Botox

HMA: paciente relata hemiparesia espástica em membro superior esquerdo

HMP:

HMF: paciente adotada, duas das três filhas são hipertensas

CHV: Ex-tabagista há 40 anos, 1 maço por dia, por 10 anos e é sedentária

PPS: Aparenta boa relação com a filha Mônica

RS: calo no pé esquerdo